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O queijo típico do Pico

 

Nunca, como hoje, se falou tanto em gestão, finanças públicas, em impostos, austeridade, em encerramento de empresas, em trabalho e desemprego. Curiosamente, deixou de se defender a criação de novas empresas, de proteger direitos fundamentais, de apelar à realização pessoal, à formação profissional, à produção com qualidade.

Há uns anos, para aproveitar os apoios da CEE, os agentes económicos e políticos, apostaram na construção de novas infraestruturas industriais destinadas à transformação de produtos do sector primário – agricultura e pescas – apoiados, como era exigido, por estudos de viabilidade económica garantida. Foi assim que se construíram novas fábricas de lacticínios e queijarias em várias ilhas, todas dentro dos padrões comunitários.

Na Ilha do Pico, houve quem contestasse as mudanças, alegando que o tradicional queijo do Pico – tipo São João - de fabrico caseiro e com grande fama e procura, não seria o mesmo, pois os equipamentos tradicionais de fabrico transmitiam um sabor característico que o metal anula. Resultado: algumas queijarias fecharam.

Naquela ilha, foi também construída para uma empresa continental uma nova fábrica, com verbas comunitárias. Passados uns anos os donos levantaram ferro e foram-se embora, ficando a cooperativa LactoPico a gerir essa indústria. A saúde financeira da cooperativa picoense, porém, tem passado por atribulações, afetando o pagamento do leite de alguns meses a uma centena de produtores. A situação projetou-se, naturalmente, no primeiro trimestre do ano em curso e, comparativamente a 2012, foram entregues naquela fábrica menos 600 mil litros de leite (1.).

Já no ano transato, registou-se uma quebra de cerca de 40 toneladas no fabrico de queijo, contrariando o aumento da produção nos últimos cinco anos.

As estatísticas revelam que, a fabricação de queijo da LactoPico foi de 723 toneladas, em 2008, de 781 toneladas, em 2009, 787 em 2010 e 790 toneladas, em 2011. O acréscimo de 70 toneladas registado, em quatro anos, constitui um dado assinalável, desde que aquela indústria tenha colocado toda o queijo no mercado. Foi assim, ou reside aí a causa do buraco financeiro da LactoPico que, em 2012, produziu apenas 753 toneladas?

É sabido que o negócio dos produtos lácteos conhece oscilações e dificuldades provenientes da cotação do leite no mercado internacional, mas também é certo que os grandes grupos económicos gerem interesses poderosíssimos que penalizam as pequenas indústrias, sem capacidade de concorrência nos grandes mercados. Algumas optam por colocar os queijos típicos em nichos de mercado exigentes onde a qualidade onera o preço final.

Estão neste segmento de produtos os queijos tradicionais de São Jorge e do Pico, e poucos mais que, noutras ilhas, tudo fazem para se diferenciarem da maioria dos queijos fabricados nos Açores.

É neste pressuposto que discordo da solução apresentada por responsáveis da lavoura açoriana e picoense, alegando que a fábrica da LactoPico “está sobredimensionada” para a produção local de leite, o que se reflete,  negativamente, no preço final.

Se essa é uma razão ponderosa, porque não foi sinalizada no estudo de viabilidade económica, fundamentado em análises prospetivas da evolução da produção leiteira picoense? Já então se afirmava que a ilha do Pico estava vocacionada para a produção de carne e não de leite. Quem sobredimensionou o empreendimento de que resultou o desperdício de verbas comunitárias e públicas? E como este, existem outros investimentos que os investigadores da história económica destas ilhas um dia se encarregarão de sinalizar.

A solução, no meu entendimento, não passa pelo envio para a fábrica do Faial,  via marítima – a que custos e em que condições? - de uma média diária de 2 mil litros de leite. Misturar-se o produto das duas ilhas, com diferentes características morfológicas, impediria a produção de produtos diferenciados.

A solução está na adaptação da fábrica ao leite existente, ou em produzir apenas o queijo típico do Pico, incorporando-lhe mais valias como: mais tempo de cura, melhor apresentação, mais criatividade nas receitas culinárias e melhores mercados.

Quem já viajou por outros países, acaba por relevar os saborosos queijos tradicionais dos Açores. Pelos outros, iguais a tantos nacionais e estrangeiros de marca registada, não tenho grande simpatia. É tempo de valorizarmos os nossos queijos típicos não receando a quantidade da sua produção que deve destinar-se a nichos de mercado.

Quando será que nos convencemos que eles têm vantagens comparativas?

(1.) Conf. SREA – estatística.azores.gov.pt

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